25 de abr. de 2008

Arroz de Polvo a Guadalupe


Já aviso logo: não é uma receita curta, dessas que a Clarisse gosta de fazer. Essa é longa e demorada.

Esse é um prato muito gostoso e bem comum lá no nordeste. Alguns chamam também de risoto de polvo. O que mais complica na sua feitura é o cozimento deste “poli-pernas”, pois, caso não seja cozido corretamente, desista do prato e contente-se com belos chicletes. Os pedaços ficam duros e borrachudos. Antigamente costumavam bater no polvo (mesmo depois dele morto) como forma de amolecer sua carne. Mas graças à evolução da inteligência humana, adotamos simples técnicas que nos livram deste tamanho trabalho e livram principalmente o polvo de apanhar até morrer de novo.


Mas vamos à receita:
Escolha inicialmente um polvo de aproximadamente 1,5kg a 2kg. O ideal é que você o ponha no congelador, tipo por 24h (até que congele). Para fazer o pernoso, tenha em cima do balcão:


  • 3 tomates vermelhos (maduros);
  • 3 cebolas grandes;
  • 1 pedaço de pimentão verde, outro vermelho e outro amarelo. (você não vai usar um inteiro. Vai ser, no máximo, 1/3 de cada um);
  • Um molho de coentro (coentro! Não use salsinha. Isso é um prato nordestino);
  • Um molho de cebolinha;
  • Alguns ramos de manjericão;
  • Pimenta do reino (em grão, se possível);
  • Sal;
  • Vinho branco;
  • Azeite;
  • Leite de coco (uns 300 ou 400 ml são suficientes);
  • Extrato de tomate (uns 100g);
  • Vinho tinto;
  • Cerveja;
  • 2 ovos.

Você vai precisar de uma panela grande. Quando eu digo grande, é bom que seja grande. Um caldeirão por exemplo. Não! Não é pro polvo nadar dentro. Eu sei que ele tá morto. Mesmo assim o bicho exige bastante água pra ser cozido. E também não precisa ser o caldeirão da Cuca, do Sítio do Pica Pau Amarelo. Pode ser uma panela grande, de forma que caiba o amigo de Bob Esponja e ainda sobre espaço.

Pegue o polvo que estava no congelador e ponha numa panela qualquer, com água, apenas para ele descongelar um pouco. Se ele não tiver tratado, não tem problema. Você pode pegar a cabeça e cortá-la na base. Vai remover tudo o que não presta. De certo que vai perder também um pedaço consumível do polvo. Só tenha cuidado para não cortar a bolsa de tinta que ele carrega. Se assim fizer vai deixar um gosto ruim no danado. O ideal é cortar bem na base da cabeça, separar e com cuidado ir explorando o que foi cortado para aprender como tratá-lo. Lembre de tirar também os “dentes”, que ficam na parte de baixo do polvo. É só ir cortando pela borda, fazendo um círculo em torno da boca e pronto. Ela sai inteira e sem danos.

Bom, depois do polvo tratado e descongelado, ponha bastante água naquela panela grande, descasque uma daquelas cebolas e ponha dentro. Não precisa picar. É melhor que ela vá inteira. Esta cebola é que fará com que a carne fique macia.

Pegue um palito de fósforo, um isqueiro ou duas pedras. Produza uma faísca e acenda o fogo. Ponha a panela em cima da chama e tampe-a. Largue lá. Daqui que água esquente e cozinhe o polvo, dá tempo de você pegar uma cerveja ou um vinho tinto e ir tomando. Sim.... se você quiser, pode cozinhar o polvo numa panela de pressão. É ótimo também. É só pegar a panela, botar água, botar o polvo e a cebola, tampar e botar no fogo. Quando começar a chiar, aguarde 20 minutos e seu polvo está cozido. Se não tiver bom, é só deixar cozinhar mais um pouco.

Enquanto você molha o bico, pegue os tomates e corte-os em cubos. Pode ser em trapézios, em triângulos... Enfim. Lembre-se das suas aulas de geometria e corte os tomates em pequenos pedaços. Faça isso com as duas cebolas restantes e com os pimentões. Corte um pouco de cada cor. Só não ponha muito pimentão senão ele rouba o gosto do prato.
Pegue uma panela média, ponha os tomates, as cebolas e pimentões. Regue com azeite e deixe cozinhando (vez em quando dê uma olhadinha no polvo pra saber se ele tá bem). Use fogo baixo para não fritar tudo. Quando começar a juntar “água”, ponha um pouco de cebolinha e de coentro picados. Ponha um pouco de sal e mexa.

Lembrou de ver o polvo? Cuidado com essa bebida! Vá olhar o polvo. Para saber se está bom, pegue um garfo e crave na lateral da cebola. Se você perceber que ela está mole, que o garfo entra fácil, significa que seu polvo está no ponto. Para certificar-se, retire um pedaço mais grosso, tipo do começo de uma das pernas e prove. Tem que estar macio, molinho. Se não tiver, deixe cozinhar mais.

Quando o polvo tiver pronto, tire da panela e ponha numa tábua. Pegue a panela que você cozinhou o polvo e guarde a água deste cozimento. Você vai precisar dela mais na frente. Corte o polvo em pequenos pedaços. Do tamanho suficiente para que você não precise de faca para comê-lo.

Pegue o polvo picado em jogue dentro daquela panela que está cozinhando as verduras. Mexa. Acrescente o extrato de tomate e continue mexendo. Adicione um pouco de vinho branco (uns 100ml) e mexa lentamente, sempre em fogo baixo. Teste o sal. E continue a mexer. Quando você perceber que as verduras já estão bem cozidas, ponha a pimenta do reino ralada. Se você não tiver um daqueles raladores, passe uns 10 ou 15 grãos no liquidificador, processe e despeje na panela. Continue mexendo. Pegue a garrafinha de leite de coco, abra e adicione. Continue mexendo. Pegue alguns ramos do manjericão, lave, pique e jogue dentro. Aguarde uns cinco ou dez minutos, após a colocação do leite de coco e desligue o fogo.

Já cansou? Dê mais um gole no seu vinho ou na sua cerveja e volte pra cozinha. Tá pensando que é fácil contar vantagem, é? (não entendeu a piada? Leia o texto: Meia Margherita Meia Calabresa)

Lembra daquela água que cozinhou o polvo e que eu mandei você guardar? Pronto. Use-a para cozinhar o arroz. Se não sabe fazer arroz, siga a receita da embalagem, senão eu não acabo esse texto hoje! Apenas use a água que você cozinhou o polvo. Se quiser, use também a cebola que ajudou a amolecer o polvo. Pique-a e jogue dentro pra cozinhar junto com o arroz.
Quando o arroz tiver pronto (ele nao precisa secar totalmente. Pode ficar molhadinho ainda), acenda novamente o fogo da panela que está o polvo e vá pondo o arroz dentro. Ponha aos poucos e vá misturando lentamente. Ponha o tanto de arroz que você achar necessário, lembrando que não deve ter mais arroz que tudo. Apesar de ser um arroz de polvo, dê mais ênfase ao polvo do que ao arroz. Largue de ser muquirana. O prato deve ficar “molhado”. Ou seja, assim que terminar de colocar o arroz, desligue o fogo.

Neste momento você está um bagaço e sua cozinha mais parecendo que passou um furacão. Seus convidados estão metade bêbados e metade irritados pela demora do prato. Não se preocupe. Assim que eles provarem vão esquecer qualquer intriga (mas não acho que vai passar a cachaça).

Sirva o arroz de polvo acompanhado de azeite, pimenta e uma vista para a Praia de Guadalupe. Este último acompanhamento é o segredo para o prato ficar maravilhoso. Você não tem essa vista? Então eu não posso garantir que seu prato vai sair gostoso.

E se o prato não ficar bom, lembra daqueles dois ovos que aparecem na lista de ingredientes? Frite-os no azeite, na manteiga, na margarina, na banha de porco, ou no que você achar melhor e junte com pão. Bom apetite! Seja pro arroz de polvo, seja pro pão com ovo. Prometo que da próxima vez faço uma receita mais simples e mais rápida.

Adauto “Di Menezes”

7 comentários:

  1. Atendendo a pedidos:

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  2. Pra quem não entendeu nada, esse tanto de número de telefone é a central de pedidos do Mc Donald's. Talvez ludmila não seja aquele tipo de pessoa que confia na habilidade dos amigos...
    tirando pelo o que conheço das habilidades dela na cozinha, é compreensível esta falta de crença.
    um beijo pra você, istrupício. Seu comentário pode ser tão útil como o "pão com ovo".

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  3. Segue uma boa sugestão para Ludmila: (81) 3441-1509. Esse é o telefone do Guaimum Gigante...vai que ela esteja passando pela mesma situação de desespero em relação a alguma carangueijada que vem comendo....kkkkkkkk

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  4. Pelo jeito voce tem tanto talento para escrever quanto para cozinhar.Parabéns.

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  5. adorei o tom descontraído da receita. prova que, além de cozinhar, vcs também tem talento para escrever. o aroma gostozíssimo de polvo já invade a minha cozinha e percebo que é claro que vai dar certo. enquanto encho a cara de vinho e espero que o óctuplo amoleça, me delicio com o blog. grato pelas dicas e pela alegria.

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  6. Gerson Lattuada - Porto Alegre22 de abril de 2010 às 21:41

    ok. preparem-se para um post mais longo que a receita. kkkkkk
    seguinte: tinha pago o maior mico quando fiz um risoto chilcete pra convidados.
    bem, acabo de fazer agora seguindo os steps da esperta receita de vcs. só adaptei um pouco porque fiz com arroz arbóreo, nao coloquei pimentões. Só contei com o caldo do povo,a cebola da fervura, e acrescentei tomatinhos no final para amenizar o sabor do polvo. finalizei com poucas alcaparras e uma colher de requeijao e alguns fios de azeite de oliva. resultado? sucesso puro. melhor risoto da minha vida! muitíssimo obrigado. o gaúcho aqui agradece comendo esse risoto fumegante, acompanhado de um bom cabernet dos meus vizinhos argentinos junto a uma bruma levemente fria que anuncia o início do frio. sério. grato. de coração aos meus idolos nordestinos. abração!.

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  7. Amei essa receita HUAHUAHUA
    Quando li a cerveja nos ingredientes, estranhei, mas depois entendi HAHAHAHAHAHAHA.
    Muito bom o seu texto!! Parabéns e obrigada!!

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